sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Uma tragédia ao lado de casa



Pensei muito em escrever esse capítulo da minha vida aqui nos Estados Unidos, e várias pessoas me perguntaram se eu não ia fazê-lo, inclusive meu marido. E aqui estou, falando de um assunto que nunca deveria existir: a tragédia da escola em Sand Hook, em Newtown.

Quando soube que ia me mudar, a cidade de Newtown foi minha primeira escolha. Um dos pontos por eu querer me mudar para lá foi o sistema escolar, que é muito bom. Mas o destino acabou me mandando para outra cidade, muito perto dali.


Newtown é uma graça, aquela cidadezinha de filme americano, onde as casas da rua principal te remetem ao passado, todos se conhecem, a vida em comunidade é muito forte, pessoas sempre com um sorriso no rosto. Eu e meu marido sempre brincamos que ser policial lá devia ser muito bom porque o máximo que acontece é roubo de maçã. Ninguém tranca as portas das casas, ninguém tranca o carro. Vida simples, como se deve ser... Até acontecer o que todos viram ou leram.

Não estou aqui para falar diretamente da tragédia da escola, ninguém precisa de mais especulação sobre o assunto. E, na verdade, não existe explicação. Mas estou aqui para falar como mãe, que viveu de perto a situação, pois tive que fazer minhas escolhas em relação a tudo que se passou. 


Fiquei sabendo do fato quando pagava o presente de natal do meu marido. Corri para pegar o Renan, meu filho mais novo. Depois fui direto pegar a Manu, que era minha maior preocupação, pois é quem podia compreender o que estava acontecendo. Entendam: tudo parou por aqui aquele dia. As crianças estavam no ginásio, e logo de cara notei que ela não sabia de nada. Foi nesse momento que tomei minha decisão: não contar. Respeito a decisão das mães que contaram, cada uma conhece seu filho e sabe lidar com ele.

A volta para a escola depois de tudo isso? Muito difícil. Dá vontade de ficar com eles para sempre embaixo de nossas asas, mas não é justo, não podemos deixar o medo nos consumir, deixar de viver, de lutar pela nossa liberdade. Na volta às aulas, quando coloquei a Manoella no ônibus amarelo e ela correu para a mesma janela que sempre me manda um beijo, meu coração apertou e quando o ônibus partiu, eu não conseguia parar de chorar, pois estava vivendo o mesmo momento de muitos pais daquela fatídica sexta-feira, que não vão mais ter essa chance.

Aprendizado? Solidariedade. Apesar da minha decisão de não contar, Manu e Renan sabem que algumas crianças estão indo para uma escola nova, e com isso nossa família, assim como outras na região, estão fazendo flocos de neve de papel para serem pendurados no teto do novo prédio e assim aquecer um pouco o coração das crianças que viveram a tragédia, e precisam seguir em frente.

 Por Paula Aloy - correspondente da Petit Polá nos Estados Unidos

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