segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A vida com crianças na Europa, por Gretel Neves

Post 1: As diferenças entre viver na Europa e na América do Sul

Antes de mais nada, gostaria de me apresentar. Sou Gretel Neves, peruana, casada com um espanhol com quem tive 2 filhos: Alexia, 5 anos, e Nicolás, 7 meses, ambos nascidos na Espanha. 

Em 2002, fui morar em Barcelona para fazer um Master em Marketing. Conheci meu marido, Bertrán Masdeu, e acabamos nos casando. Decidimos viver em Barcelona mas nosso casamento foi na minha terra, no Peru. Vivemos aqui por seis anos, mas a crise financeira começou a tomar conta da Europa e decidimos tentar a vida no Peru, onde acreditávamos que teríamos mais oportunidades e que a nossa filha poderia ser mais feliz.

Barcelona. (Foto: euviajocommeusfilhos.blogspot.com)
Quando fui embora de Barcelona, estava convencida que a Alexia (nesta época ainda filha única) seria muito mais feliz no Peru. Lá estava minha família, cuja relação é muito próxima e haveria muita participação na vida dela, teria muito mais amigas e em teoria eu estaria no meu país, em meu local. O choque, porém, foi maior do que eu imaginava.  A minha filha foi realmente feliz lá, mas eu me sentia estranha. E me darão razão as pessoas que por um ou outra motivo viveram longe de seu país por muito tempo. Nos convertemos em estrangeiros para sempre, porque nos acostumamos com a vida fora do nosso país, mas sentimos falta dele. E, quando chegamos a nossa origem, sentimos falta de todas as coisas positivas que os países estrangeiros podem nos proporcionar. A sensação de nostalgia é eterna.

Conclusão: voltamos a Barcelona em 2011, onde nasceu nosso segundo filho e começamos uma nova adaptação e uma nova vida.

Adaptação Infantil

Imagem ilustrativa
O colégio foi uma das piores adaptações pelas quais nossa família passou na volta à Europa. Nossa volta foi acompanhada do nascimento do nosso segundo filho, Nicolás, o que gerou muitos ciúmes na filha mais velha. A Alexia não queria ficar no colégio de jeito nenhum.

Na Espanha o horário das crianças na escola é das 9h da manhã às 5 da tarde. No Peru, ela estava acostumada a ficar na escola apenas 4 horas por dia. Em Barcelona, as crianças comem no colégio e não há desculpas de que não gosta de tal comida – tem que comer o que houver. Enquanto nos pátios da maioria das escolas do Peru há brinquedos e jogos, em Barcelona a diversão infantil se resume apenas a um terreno plano de areia e um pátio vazio.

No primeiro mês protagonizamos os piores escândalos, birras, brigas na porta da escola. Já não sabíamos o que fazer. Tentamos conversar, dar prêmios por bom comportamento (que não nos ouçam os psicólogos), castigos por mal comportamento, ignorar as reações – mas nada dava resultado. Até que um dia sua professora lhe disse: ‘Alexia, isto acabou.’ Com a voz áspera, mas sem gritar, a levou para a sala de aula e impôs o que tentávamos fazer havia mais de um mês: respeito às regras. Santa professora! Agora, quando uma birra se aproxima, digo apenas que ela vai fazer o que eu quero, sem nenhuma discussão... e funciona. Experimente, sem gritar só com a voz muito séria.

O pátio, que ela tanto odiava, agora adora. Brincar na areia tornou-se mais divertido pois desperta sua imaginação: busca tesouros, por exemplo, e fica muito feliz se encontra algum botão ou figurinha. 
Concluí que as crianças estão felizes em qualquer lugar. Tudo que elas precisam é de amor, respeito e regras. É necessário que o adulto dedique um pouco do seu tempo para brincar com seus filhos, para acalmar seus medos ou apenas para falar sobre suas coisas.

Minha volta a Barcelona me ensinou muitas coisas. A principal diferença que eu notei ao viver em Barcelona e que antes, no Peru, não percebia, é que os meus filhos vivem aqui anônimos, e esse anonimato os faz mais livres. Aqui, saem para brincar nos parques ou outros locais com todas as crianças, independentemente de quem são. E se você por acaso se descuidar por um momento dos brinquedos dos seus filhos, não precisa se preocupar, porque se alguém pegar, você sabe que vai devolver. Já na América do Sul, isso nem sempre acontece. Há um classismo muito definido e a falta de confiança em nossos próprios compatriotas.

Acredito que os valores que mencionei tornam a vida mais fácil e mais simples na Europa. E quem tem a oportunidade, deve aproveitar o melhor que uma experiência internacional pode trazer. Aliás, vocês não sabem como é bem mais fácil e simples fazer uma festa de aniversário aqui do que na América do Sul! Mas isso é assunto para outra postagem...

Por Gretel Neves - Correspondente da Petit Polá na Europa

Nenhum comentário:

Postar um comentário