quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Vestibulinho X Sorteio: A opinião de quem acompanha de perto


 
A Petit Polá conversou com a fonoaudióloga infantil, que também trabalha com a preparação psicomotora das crianças que fariam a prova de seleção para entrar no 1º ano do ensino fundamental, Flávia França, sobre a mudança na seleção de alunos para as melhores escolas do Rio de Janeiro. Sua opinião é expressa no artigo abaixo:

Na educação infantil a criança deve ser estimulada em todas as suas potencialidades. É o momento dela ganhar mais segurança, de desenvolver a formação moral e a responsabilidade. É também na educação infantil que se dará a inserção em diversos grupos, além do familiar. Neste percurso ela desenvolverá sua linguagem expressiva, compreensiva e gestual. Para isso deverá ser estimulada a exercitar suas capacidades motoras e cognitivas. Assim terá inicio sólido seu processo de alfabetização. 

O desenvolvimento insuficiente, em razão da falta de uma estimulação suficiente, leva a desarmonias cognitivas e, possivelmente, ao fracasso escolar. A educação infantil deve ser a base sólida e eficaz, de outro modo o resto tende a ruir. 

Os professores ganham mal. Moramos num país onde o ensino não é valorizado e por isso é, em geral, fraco. Muitas e muitas vezes, lemos, sabemos e ouvimos, sobre erros ortográficos absurdos de advogados, médicos, políticos, empresários e o pior, de professores, profissionais que se formaram com louvor. Temos que levar o estudo a sério e exigir o ¨PADRAO FIFA¨ no ensino.Tenho receio de sorteio de vagas para o ingresso em qualquer fase da escolaridade. Temo que entrando pelo sorteio e não por mérito, nosso ensino, já tão carente, possa piorar mais. 

Quando e como essas crianças serão preparadas? Acredito que nossa excelência será cada vez mais limítrofe sem exigência. Será que teremos crianças mais desinteressadas, mais mal orientadas, mais desestimuladas, fazendo “do seu jeito¨, sem mesmo saberem de que jeito, se sentindo incapazes de irem mais, de tentarem mais, e por isso conformadas, acomodadas? E seus pais, sem saber o que fazer, aceitarão e não exigirão um ¨tente mais¨, ¨se esforce mais¨, ¨acredite em você¨, ¨você consegue¨... Seria uma depressão total, uma falta de desejo de ir além. 

Minha grande preocupação é com o que será ensinado e cobrado na educação infantil. É possível que as escolas se acomodem sabendo que as vagas tão concorridas serão adquiridas através de sorteio e que pensem que esses primeiros anos são só para brincar, para passar o tempo, enquanto seus pais estão no trabalho.

Neste cenário, as escolas de educação infantil se transformariam, num futuro não muito distante, em playgrounds, onde esses pequenos aguardarão o momento de voltarem para suas casas, sendo entregues de banho tomado, jantar nas barriguinhas, vazios de conhecimentos e sem aprendizado.

Sou a favor de uma entrevista individualizada onde a criança seja avaliada em suas habilidades compreensivas e expressivas. Esta entrevista deve avaliar o desenvolvimento psicomotor, a percepção, a linguagem e as funções cognitivas. Sou a favor, portanto, de uma avaliação das habilidades específicas antes da leitura e da escrita, antes da alfabetização.

Penso que esta seja uma forma de avaliação, sobretudo das escolas de educação infantil, e que isso as motive a apresentar um trabalho cada vez melhor.

É importante esclarecer que o fato de uma criança conseguir ou não a vaga numa destas tão disputadas escolas seja através de sorteio ou de testagem/entrevista, em minha observação, não leva a qualquer frustração da criança, mas apenas, às vezes, de seus pais. E mesmo no caso do sorteio estes pais ainda terão que ter o cuidado de controlar suas expectativas e frustrações, tanto como se fosse numa testagem/entrevista. 

Devemos encarar essas testagens/entrevistas com a naturalidade que encaramos, por exemplo, a troca de faixa no judô ou a troca de touca na natação.

Crianças bem preparadas e estimuladas pelas suas escolas e familiares terão o mundo aos seus pés.
Estudo é coisa séria!

Por Flávia França – fonoaudióloga infantil e preparava crianças para o "vestibulinho"

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