A Petit Polá conversou com a fonoaudióloga infantil, que também trabalha com a preparação psicomotora das crianças que fariam a prova de seleção para entrar no 1º ano do ensino fundamental, Flávia França, sobre a mudança na seleção de alunos para as melhores escolas do Rio de Janeiro. Sua opinião é expressa no artigo abaixo:
Na educação infantil a criança
deve ser estimulada em todas as suas potencialidades. É o momento dela ganhar
mais segurança, de desenvolver a formação moral e a responsabilidade. É também
na educação infantil que se dará a inserção em diversos grupos, além do
familiar. Neste percurso ela desenvolverá sua linguagem expressiva,
compreensiva e gestual. Para isso deverá ser estimulada a exercitar suas
capacidades motoras e cognitivas. Assim terá inicio sólido seu processo de
alfabetização.
O desenvolvimento insuficiente,
em razão da falta de uma estimulação suficiente, leva a desarmonias cognitivas
e, possivelmente, ao fracasso escolar. A educação infantil deve ser a base
sólida e eficaz, de outro modo o resto tende a ruir.
Os professores ganham mal.
Moramos num país onde o ensino não é valorizado e por isso é, em geral, fraco.
Muitas e muitas vezes, lemos, sabemos e ouvimos, sobre erros ortográficos
absurdos de advogados, médicos, políticos, empresários e o pior, de
professores, profissionais que se formaram com louvor. Temos que levar o estudo
a sério e exigir o ¨PADRAO FIFA¨ no ensino.Tenho receio de sorteio de vagas
para o ingresso em qualquer fase da escolaridade. Temo que entrando pelo
sorteio e não por mérito, nosso ensino, já tão carente, possa piorar mais.
Quando e como essas crianças
serão preparadas? Acredito que nossa excelência será cada vez mais limítrofe
sem exigência. Será que teremos crianças mais desinteressadas, mais mal
orientadas, mais desestimuladas, fazendo “do seu jeito¨, sem mesmo saberem de
que jeito, se sentindo incapazes de irem mais, de tentarem mais, e por isso
conformadas, acomodadas? E seus pais, sem saber o que fazer, aceitarão e não
exigirão um ¨tente mais¨, ¨se esforce mais¨, ¨acredite em você¨, ¨você
consegue¨... Seria uma depressão total, uma falta de desejo de ir além.
Minha grande preocupação é com o
que será ensinado e cobrado na educação infantil. É possível que as escolas se
acomodem sabendo que as vagas tão concorridas serão adquiridas através de
sorteio e que pensem que esses primeiros anos são só para brincar, para passar
o tempo, enquanto seus pais estão no trabalho.
Neste cenário, as escolas de
educação infantil se transformariam, num futuro não muito distante, em
playgrounds, onde esses pequenos aguardarão o momento de voltarem para suas
casas, sendo entregues de banho tomado, jantar nas barriguinhas, vazios de
conhecimentos e sem aprendizado.
Sou a favor de uma entrevista
individualizada onde a criança seja avaliada em suas habilidades compreensivas
e expressivas. Esta entrevista deve avaliar o desenvolvimento psicomotor, a
percepção, a linguagem e as funções cognitivas. Sou a favor, portanto, de uma
avaliação das habilidades específicas antes da leitura e da escrita, antes da
alfabetização.
Penso que esta seja uma forma de
avaliação, sobretudo das escolas de educação infantil, e que isso as motive a
apresentar um trabalho cada vez melhor.
É importante esclarecer que o
fato de uma criança conseguir ou não a vaga numa destas tão disputadas escolas
seja através de sorteio ou de testagem/entrevista, em minha observação, não
leva a qualquer frustração da criança, mas apenas, às vezes, de seus pais. E
mesmo no caso do sorteio estes pais ainda terão que ter o cuidado de controlar
suas expectativas e frustrações, tanto como se fosse numa testagem/entrevista.
Devemos encarar essas
testagens/entrevistas com a naturalidade que encaramos, por exemplo, a troca de
faixa no judô ou a troca de touca na natação.
Crianças bem preparadas e
estimuladas pelas suas escolas e familiares terão o mundo aos seus pés.
Estudo é coisa séria!
Por Flávia França – fonoaudióloga infantil e preparava crianças para o "vestibulinho"
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