Lendo o jornal de ontem, não pude deixar de lembrar da conversa da última festinha de aniversário. Enquanto as meninas brincavam e dançavam, as mães papeávamos sobre as viagens que fizemos e as que vamos fazer, sobre a virose parecida com a dengue que anda rondando a cidade, sobre... Até que o assunto se instalou: a adolescência de hoje é muito mais preocupante do que uma geração atrás. Será?
A capa do Segundo Caderno do Globo deste domingo fala sobre a versão para o cinema de “Confissões de adolescente”, a peça de Maria Mariana que foi um enorme sucesso na década de 90, virou livro, seriado e que agora chegará à tela grande pelas mãos de Daniel Filho. Na matéria, uma das jovens atrizes diz a Rodrigo Fonseca que “em qualquer época, em qualquer lugar do mundo, os sentimentos típicos da adolescência são os mesmos, ainda que a internet hoje tenha tornado as descobertas mais fáceis”. Será?
Uma das mães da festinha, que também tem um filho de 15 anos, dizia-se assustada com a liberalidade das famílias. Manifestava seu incômodo com as idas e vindas de táxi noite afora, as bebedeiras, as brincadeiras de cunho erótico... Eu, que sou apenas oito anos mais nova do que ela, me lancei em meu esporte favorito: discordar. Argumentei que essas eram questões que já tiravam o sono da minha mãe, e o da mãe da minha mãe. Estamos sempre assustados com as mudanças que as novas gerações nos impõem.
Mas reconheço um dado novo na turma que está chegando e para qual, desconfio, não estamos de todo preparados: a internet. E aí discordo, de novo. Dessa vez das aspas da entrevistada: ainda que os sentimentos e conflitos sejam semelhantes – jamais iguais – a tecnologia inaugurou uma forma de se relacionar que se dá em outra proporção. E é isso que me inquieta. E me preocupa.
Se, imagino, é reconfortante para uma mãe entrar no Face às 2 da manhã e ver que o Júnior acabou de adicionar, próximo à Lagoa, a gatinha (ainda se fala assim?) que ele acabou de pegar numa festa de 15 anos, e isso dispensa um telefone para saber onde, como e com quem o filho está, por outro lado essa exposição de nossos vidas banaliza nossa intimidade.
Como ensinar aos adolescentes que nossos filhos serão o sentido dessa palavra se nós mesmos colocamos em rede internacional o primeiro banho, a primeira vez que comeram papinha, os primeiros passos, o primeiro corte de cabelo, o primeiro dia na escola? Como convencer Mariazinha de que seu primeiro beijo e sua primeira transa não são, ou não deveriam ser, assunto para os amigos dos amigos, se sua história pode ser contada pelo álbum de fotos no perfil do pai? Como explicar para Juju que é perigoso colocar o número do celular e o endereço da casa em Búzios no status da melhor-amiga-que-ela-conheceu-ontem-à-noite, se a mãe orgulhosa posta que ela é aluna do Colégio Tal, da turma A,do turno da manhã, da professora Maricota?
E ainda tem mais. A frase que a minha mãe rezava feito uma ladainha para mim a cada vez que tinha de me dizer um não vem a calhar: “Eu confio em você, não confio é nos outros”. Sim, porque eu posso ter todos os cuidados do mundo para ensinar para as minhas filhas o valor da palavra privacidade e isso de nada adiantará se um namoradinho resolver que não há problemas em dividir suas impressões sobre elas com os amigos – coisa que os meninos fazem desde que o mundo é mundo. O problema é que a rodinha aumentou. Lembro apreensiva da entrevista que fiz com mãe e filha depois que um vídeo da primeira vez da garota foi parar na internet, gravado pelo celular do ficante. Isso foi oito anos atrás...
Precisamos refletir sobre as fronteiras que separam as esferas pública e privada. Enquanto pensamos, torço para que as minhas filhas estejam sempre em boas mãos. E que essas mãos nunca estejam ocupadas “textando” o que as meninas estiverem fazendo. De certo e de não tão certo assim.
Em tempo: os nomes são todos fictícios, obviamente. As histórias não, incrivelmente.
Por Tatiana Clébicar - colaboradora da Petit Polá no Rio de Janeiro